domingo, 27 de fevereiro de 2011

Há vida!

Vermes cretinos nos comerão
Antes que possamos viver.
Nos venderão em uma rede de fast food,
Todos irão nos comer.

E a terra vai chorar lava
Por não ter podido nos engolir
E sob sua calma fria 
- quase completamente morta -
Nos ter feito dormir...

Mas um feixe de luz me que agora
Para fora do esgoto
E você então verá 
Como me rastejo em direção à vida:
Há vida!


- Vico Nataraz

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

"O que será que me dá?"

O que mais de deixa triste nessa vida é as pessoas não perceberem que a razão de minha tristeza é elas não verem o que há de errado no mundo.

Em dias como estes me sinto tão vulnerável. Não encontro saída, não encontro sentido; como se um parasita tivesse entrado em meu coração e sugado a última gota de esperança. Não consigo imaginar como será os próximo anos, pois não tenho forças pra mover um dedo e desligar a tv - quanto menos pra puxar o gatilho. Seria horrível. Fato é: nasci maldito, e assim sempre serei. Maldito por querer sonhar demais, por querer ter o que amar; e as aventuras que tanto quis se perdem no vazio infinito da realidade cotidiana: pessoas que vêm e vão, sem parar, já não vejo mais seus rostos, pois seus corações também foram sugados. Tudo que eu queria era um mundo melhor. É tudo o que eu sempre sonhei. Estou completando 20 anos de vida, e nessa vida ainda não me adaptei. Esse não é o mundo que eu quero: há muito tempo venho dizendo adeus, adeus, adeus, adeus... Mas continuo aqui em meu quarto, completamente só, pensando... Confesso meus lamentos sem um pingo de receio. Não estou sendo mais do que sincero em dizer estas palavras para quem acha que sempre me conheceu, e sempre me achou um rude, e teve medo de mim sem razão. Meus problemas não são só meus. Aconteça o que acontecer, eu não me importo mais. Ao ler tudo isso você sentiu o que? Pena? Nojo? Compaixão? Acha que sou louco? Eu não me importo. Há muito tempo  perdi o medo de admitir a miséria humana, de admitir minha fraqueza. Mas saiba que tenho boa fé. Já sofri muito querendo ajudar as pessoas... Por tudo que é mais miserável, eu me rendo. Eu me rendo, e sofrerei, enfim, minha dor. Calado e só.

(27/12/2010, véspera de aniversário)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Poema meu de cada dia

Eu vivo a cada dia
Como se fosse o último.
E escrevo cada poema
Como se fosse o primeiro.

Toda coisa que sentia
Em silêncio sento e rimo
Livre de todo problema
O que vivi o dia inteiro
Poema meu de cada dia.

Vi Zanata, 16/02/11

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Meu pesadelo

"(...) Imaginemos uma fabulazinha onde o herói seja um certo urbanóide pós-moderno: você. Ao acordá-lo, o rádio-relógio digital dispara informações sobre o tempo e o trânsito. Ligando a FM, lá está o U-2. O vibromassageador amacia-lhe a nuca, enquanto o forno microondas descongela um sanduíche natural. No seu micro Apple II, sua agenda indica: REUNIÃO AGÊNCIA 10H/ TÊNIS CLUBE 12H/ ALMOÇO/ TROCAR CARTÃO MAGNÉTICO BANCO/ TRABALHAR 15H/ PSICOTERAPIA 18H/ SHOPPING/ OPÇÕES: INDIANA JONES-BLADE RUNNER VIDEOCASSETE ROSE, SE LIGAR / SE NÃO LIGAR, OPÇÕES: LER O NOME DA ROSA (ECO) - DALLAS NA TV - DORMIR COM SONÍFEROS VITAMINADOS/.
Seu programa rolou fácil. Na rua divertiu-se pacas com a manifestação feminista pró-aborto que contava com um bloco só de freiras e, a metros dali, com a escultura que refazia a Pietá (aquela do Miguelangelo) com baconzitos e cartões perfurados. Rose ligou. Você embarcou no filme Indiana Jones sentado numa poltrona estilo Menphis - uma pirâmide laranja em vinil - desfiando piadas sobre a tese dela em filosofia: Em Cena, a Decadência. A câmera adaptada ao vídeo filmou vocês enquanto faziam amor. Será o pornô que animará a próxima vez.
Ao trazê-lo de carro para casa, Rose, que esticaria até uma festa, veio tipo impacto: maquiagem teatral, brincos enormes e uma gravata prateada sobre o camisão lilás. Na cama, um sentimento de vazio e irrealidade se instala em você. Sua vida se fragmenta desordenadamente em imagens, dígitos, signos - tudo leve e sem substância como um fantasma. Nenhuma revolta. Entre a apatia e a satisfação, você dorme."

(trecho do livro: O que é pós-moderno, Jair Ferreira dos Santos, Ed. Brasiliense, 1987)

Mau dia, mau dia!

Hoje eu aprendi que a verdadeira amizade não existe. Que a afetividade e a comunhão entre os homens, é um sonho vão. Quanto mais conheço as pessoas, mais medo tenho de me envolver com elas. Não confio em ninguém, porque ninguém jamais me entenderá. Do contrário, todos farão de mim o que desejar. Se me afasto das pessoas, é porque elas nada têm a me acrescentar.
Viva o irracionalismo-anarco-individualista-pessimista-niilista!

"Estranho", 06/05/2010.

Remorsos vãos

Muitas coisas que vemos, não existem. Muitas coisas que não vemos, existem. A vida é falsidade, a vida é traição. Pensar que o sol passa sobre nossas cabeças é ilusão. Jamais conheceremos a nós mesmos como queremos. Nosso medo de saber a verdade nos trairá novamente. Somos seres artificiais; estamos sempre aprendendo um sorriso novo, uma piada nova... pra quê? Sim! Buscamos sempre a plenitude, buscamos abarcar a totalidade da vida para estarmos no controle de tudo; buscamos o sentido da vida, mas me parece que o sentido da vida é justamente esta busca infinita pelo sentido da vida. De modo que o sentido da vida, no fim, acaba sendo o que queremos que seja, ao longo do caminho, em baixo das pedras, ou além das montanhas. Tudo isso é uma grande besteira. Isso aqui não é auto ajuda. Foda-se!

"Estranho" 06/05/2010

Projeto inacabado

Momentos de solidão são momentos de reflexão. É quando posso finalmente me sentar em meu quarto, ler um bom livro, ouvir uma música que eu gosto, escrever alguns versos, ou simplesmente pensar, silenciosamente, em como foi meu dia; sobre tudo o que queria ter feito, e não fiz...
Confesso que ultimamente ando meio triste. Não com os últimos acontecimentos, mas com seu potencial fracasso. E essa minha propensão ao pessimismo parece ser uma consequência inevitável, e até necessária, de anos de desencantamento.
Quando criança, me lembro que sentia uma vontade enorme de viver uma grande aventura, com grandes emoções, e que um dia este dia chegaria. Os meus dias eram feitos de pequenas aventuras, pois minha imaginação me lavava aonde eu queria chegar. Mas chega uma hora que percebemos que este mundo de fantasia não existe, e que o mundo é feio, triste e cinzento. Percebi que aqueles meus sonhos se tornaram em meu pior pesadelo: sonhei levar uma vida normal.
No começo eu até sentia orgulho de mim mesmo, pois ainda me restavam algumas esperanças. Me lembro que apesar de sempre ter sido diferente, recluso, vivendo só em meu mundo, ainda sentia a vida passando em minhas veias, e via meu rosto sorridente no espelho; minha calma serena e até tímida, me faziam perceber que eu era especial, e que conseguria tudo o que eu quisesse se conservasse dentro de mim um coração bondoso e cheio de vida.

Sem data, e inacabado...

Sem questões

Não há como esperar que algo de bom nos aconteça de repente. Isso tudo é ilusão. Não sei mais em que acreditar, em que posso confiar; o que ou quem será meu porto seguro... Sei apenas que tudo isso depende exclusivamente de mim, já que me sinto completamente só deste lado do planeta. No entanto, não será a dor do poeta uma invenção de sua cabeça? Ou será que Rousseau estava certo ao dizer que a sociedade é quem nos corrompe? Será que a sociedade nos oprime, e nada podemos fazer, como dia Durkheim? Há um sem número de questões referentes à nossa existência que estão por ser respondidas há séculos. Mas ainda busco uma utilidade para o conhecimento em minha vida. E apesar de tudo, eu quero mais é viver...

Novembro/2010.

Basta querer?

O que há em nós quando não queremos o bastante? Há dias em que estou confuso quanto ao que quero, e tudo o que faço parece ser uma grande mentira. Jamais quero mentir pra mim mesmo novamente, como menti muitas e muitas vezes... Eu não quero mais estar confuso; eu quero saber o que eu quero, tenho direito de saber! Por que seria assim, tão difícil de compreender? Será que devo simplesmente andar em direção à vida, despreocupado, para ver no que vai dar, e assim, de repente, uma resposta virá? Talvez eu deva experimentar os sabores da vida sem nenhum propósito, para que assim eu possa descobrir qual é o meu verdadeiro propósito.

(Semanas atrás).

Fazer arte

Fazer arte pressupõe o reconhecimento da fealdade do mundo, e a sua busca é a da beleza e da perfeição, inexistentes em nossas vidas e indispensáveis à plenitude humana. Todo homem carrega uma dúvida: um não-saber generalizado que finda em si mesmo, numa confusão de sentidos. A tomada de consciência desse não-saber, provoca em nós o movimento interno do desejo da busca por respostas sobre a existência. Essa busca, se se torna constante, torna-se igualmente necessária, e pode levar ao homem a um estado de espírito superior ao qual se encontrava até então. O caminho da arte sempre foi o caminho do auto-conhecimento; e neste caminho, jamais pode haver um fim. Talvez eu não saiba aonde quero chegar, mas sei com toda certeza aonde não quero ficar. "Conhece-te a ti mesmo" (Sócrates).

13/02/11, madrugadas da vida.

O dia em que me tornei um alien

Me sinto como um alienígena. Por onde passo sinto o peso dos olhares desconfiados sobre mim, como se eu fosse um homem-bomba, prestes à explodir. Desgraça! Que gosto de derrota sinto em meus lábios, sempre fechados... E em momentos de distração, vejo milhares de imagens desconexas passando em meus pensamentos; velhos fantasmas que me roubam a paz. Aquela força primitiva que há muito me impulsionara em minha busca por respostas, hoje se extinguiu. Não vejo saída. Estamos todos condenados a essa condição de liberdade, capaz de destituir todo valor, crença, garantia, de um ser que se vê no fim de tudo, desprovido de qualquer sentido para existir. Mas comigo é diferente... Assim me sinto: como um alienígena.

28/09/2010, uma tarde qualquer, no fundo da biblioteca...

Momento na escada

Esta carta é fictícia, muito embora sua inspiração realmente ocorreu, na véspera de sua escrita.

Carta ao namorado.

Decidi quebrar as promessas que me confiou. Não seria justo apenas eu seguir nossos planos. Sei que mais uma vez não as cumpriu. Junto a um amigo, em sua ausência, conversamos sobre muitos assuntos da vida. Lhe contei sobre um sonho que tive, no qual você não viera me ajudar quando mais precisei. Acrescentei, com todo ânimo, que um dia escreverei um conto sobre o que sonhei. Ele gostou, me compreendeu, e até riu de minhas manias e modos de me expressar. Quando me perguntou de você fiquei meia sem jeito: respondi apenas que não sabia, mas que ainda gosto de você. Esse meu amigo se interessa pelas minhas loucuras e manias; ele me ouve falar olhando atentamente em meus olhos, demonstrando com sinceras expressões o que sente e pensa a respeito. Ele me ouve, e não abre a boca para falar nada que não tenha significado para mim no momento em que preciso dele...

(Novembro/2010)