Hoje fui à uma escola pública da periferia da cidade, às 19h, para fazer um certo trabalho de Sociologia. Chegando lá, "com uma mão na frente e outra atrás", avistei um grupo de jovens que chegaram atrasados para a aula. Eles conversavam muito, davam várias risadas. Do lado de fora um grupo de meninas conversavam como que revelando segredos. Fui até o balcão da secretaria e esperei ser atendido: "Pois não?", perguntou uma mulher morena que aparentava uns 40 anos de idade. Seu ar era de indiferença e relativo desprezo. "Sou estagiário", respondi. "Estagiário?", indagou a mulher. "Sim. Minha professora me disse para procurar esta escola para fazer um trabalho de sua disciplina". A mulher, sem saber o que responder, olhou para outra e perguntou se ela sabia de algo. Sem sucesso. Nos momentos seguintes tentei convencê-las a reconsiderar minha situação, dizendo que um outro grupo já realizava suas atividade nesta mesma escola. Novamente sem sucesso. Enfim, minha entrada foi mais uma vez (da outra vez a diretora da escola parecia ter medo do que eu poderia dizer sobre sua escola - de certo diria algo) impedida. Compreendi. Afinal, por falta de tempo, energias, coragem, não procurei minha professora para pegar um tal ofício que prometera redigir. Na volta para casa percebi o quanto o sistema burocrático tem um jeito de controlar nossas ações, de restringir até mesmo nossa boa vontade. Lembrei-me de que os resultados parciais do trabalho teriam de ser apresentados na semana seguinte, e que a próxima segunda-feira seria o feriado de 15 de Novembro. Só havia uma alternativa: procurar a escola em que estudei por três anos. Meses antes não me interessara em fazer o trabalho nesta escola, justamente por ela ter feito parte de minha vida, e sua realidade me parecer tão próxima. Mas agora era tudo o que me restava, e até me acostumei com a ideia, seguro de que seria aceito por ser um aluno egresso. No entanto, sabia que sem um documento nada conseguiria de imediato. Ao chegar na escola, às 20:20h, encontrei dois ex-colegas de sala que estavam indo conversar com a mesma pessoa que eu. Um deles avisou a secretaria de que tinha alguém esperando os portões se abrirem. Entrei. Desta vez fui bem recebido pelo meu ex-professor E., que de longe me reconheceu: "Victor Bispo Zanata!". Conversamos um pouco, demos umas risadas. Logo depois meus dois colegas foram embora, e pude então comunicar o motivo de minha vinda. É lógico que a burocracia ainda estava no comando da situação, apesar da familiaridade com a escola, dos laços de amizade com alguns professores. O buraco é mais embaixo, e eu sabia. Mesmo assim, tudo o que eu queria era poder começar meu trabalho, em um simples recreio de 15 minutos: seria o suficiente. Mas se tratando da burocracia, nossas palavras não bastam; tem que haver a formalidade, as assinaturas, os carimbos... Com essa história toda, só aprendi o que já sabia: simplesmente que, sem um maldito documento, sem um maldito ofício, nem mesmo um defunto consegue provar que está... digamos, morto!
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