sábado, 19 de março de 2011

Uma Estrela à vista!

Teus pés na lama, a tua face escura,
Ó homem, que penosa condição!
A dúvida te afoga, e a vida dura
Para sofrer. Vontade ou percepção
Para lutar te faltam. Nesta agrura,
Nenhuma estrela, não!

Teus deuses? São bonecos dos teus padres.
“Verdade? Tudo é relativo!” diz
O cientista. Querem que tu ladres
Com o teu cão... E por que não? Servís,
Ambos, e o amor-instinto os faz compadres.
Mas que vida infeliz!

Tua carniça estremeceu de ver-se
Um torrão, atirado pela chance,
Do barro universal; sem alicerce,
Sofrendo, e para que? Pois que alcance
Dá o acaso a este barro a contorcer-se?
Mas que tolo rimance!

Todas as almas são, eternamente;
Cada uma indivídua, ultimal,
Perfeita; cada faz-se um véu de mente
E carne, e assim celebra o seu bridal
Com outra gêmea máscara que sente
Amar de amor lustral.

Alguns, embriagados com seu sonho,
Não querem que ele finde, e se confundem
Com o jogo de sombras enfadonho.
Um astro então que chame os que se afundem
Na ilusão, e eles brilham no risonho
Lago da vida, e fundem...

Tudo que começou não terá fim;
O universo perdura porque é.
Portanto, Faze o que tu queres; sim,
Todo homem e mulher estrela é.
Pan não morreu; Pan, ele vive! Assim,
Quebra os grilhões! De pé!

Ao homem venho, número de um homem
Meu número, Leão de Luz; enrista
A Besta cuja Lei é Amor; pois tomem
Meu Amor sob vontade, e vejam! — Crista
De sol interna, e não externa!... Homem!
Eis uma estrela à vista!

- TO MEGA THERION

sexta-feira, 18 de março de 2011

Antífona

Odilon Redon - Ciclope

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas!
Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...
Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras,
De Virgens e de Santas vaporosas...
Brilhos errantes, mádidas frescuras
E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas,
Harmonias da Cor e do Perfume...
Horas do Ocaso, trêmulas, extremas,
Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos,
Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes...
Dormências de volúpicos venenos
Sutis e suaves, mórbidos, radiantes...

Infinitos espíritos dispersos,
Inefáveis, edênicos, aéreos,
Fecundai o Mistério destes versos
Com a chama ideal de todos os mistérios.
(...)

Cruz e Sousa

sábado, 5 de março de 2011

Sem título #2

Não há grandeza, nem virtudes
Não há garantia, boas atitudes
Tudo se perde em futilidades
Todos se perdem em futilidades.

Não há esperança, felicidade
Não há valores, não há verdade
Tudo confunde nossa vontade
Todos confundem nossas vontades.

Pensar, pra que vou pensar?
Se acordar ou não, tanto faz.
Aqui jaz minha consciência:
Na inconsistência do sonhar...

- Vico Nattaraz

Sem título #1

Versos inúteis...
Palavras nulas...
Vontades vãs...

Não haverá poesia
Enquanto vivermos
Assim.

Não haverá novo dia
Sem desejarmos
Um fim.

-Vico Nattaraz