segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tristes corações

Pra sempre ou nunca mais? É difícil saber a melhor escolha a se fazer...
Mas eu tenho pressa. Assim como o sangue que corre em minhas veias,
Eu tenho pressa de chegar em um lugar onde eu possa finalmente respirar,
Bater a poeira e recomeçar: esquecer de tudo, e simplesmente recomeçar.

Sonho com este lugar todas as noite de minha vida.
Mas no fundo sei que ele existe apenas em sonho.
Que os contos de fadas desapareceram do mundo.
Que o mundo ficou mudo, triste, insensato, hostil...

Só sei que a cada dia já não sou mais o mesmo...
E que esta confusão se torna por  vezes insuportável.
Quando isso tudo vai acabar? Vos chamo para a luta
Tristes corações? Ou ficaremos assim, em prantos?

Completamente sós?

(Victor Zanata)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Untitled #11 - John Frusciante



Eis que no leito de morte, o incrível ex-guitarrista dos Red Hot's compõe esta fantástica canção de desespero. Salve John Frusciante: um vencedor de si mesmo.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Das três metamorfoses



Três metamorfoses, nomeio-vos, do espírito: como o espírito se torna camelo e o camelo, leão e o leão, por fim, criança.

Muitos fardos pesados há para o espírito, o espírito forte, o espírito de suportação, ao qual inere o respeito; cargas pesadas, as mais pesadas, pede a sua força.
“O que há de pesado?”, pergunta o espírito de suportação; e ajoelha como um camelo e quer ficar bem carregado.
“O que há de mais pesado, ó heróis”, pergunta o espírito de suportação, “para que eu o tome sobre mim e minha força se alegre?
Não será isto: humilhar-se, para magoar o próprio orgulho? Fazer brilhar a própria loucura, para escarnecer da própria sabedoria?
Ou será isto: apartar-se da nossa causa, quando ela celebra o seu triunfo?
Subir para altos montes, a fim de tentar o tentador?
Ou será isto: alimentar-se das bolotas e da erva do conhecimento e, por amor à verdade, padecer fome na alma?
Ou será isto: estar enfermo e mandar embora os consoladores e ligar-se de amizade aos surdos, que não ouvem nunca o que queremos?
Ou será isto: entrar na água suja, se for a água da verdade, e não enxotar de si nem as frias rãs nem os ardorosos sapos?
Ou será isto: amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma, quando ele nos quer assustar?”
Todos esses pesadíssimos fardos toma sobre si o espírito de suportação; e, tal como o camelo, que marcha carregado para o deserto, marcha ele para o seu próprio deserto.
Mas, no mais ermo dos desertos, dá-se a segunda metamorfose: ali o espírito torna-se leão, quer conquistar, como presa, a sua liberdade e ser senhor em seu próprio deserto.
Procura, ali, o seu derradeiro senhor: quer tornar-se-lhe inimigo, bem como do seu derradeiro deus, quer lutar para vencer o dragão.
Qual é o grande dragão, ao qual o espírito não quer mais chamar senhor nem deus? “Tu deves” chama-se o grande dragão. Mas o espírito do leão diz: “Eu quero”.
“Tu deves” barra-lhe o caminho, lançando faíscas de ouro; animal de escamas, em cada escama resplende, em letras de ouro, “Tu deves!”
Valores milenários resplendem nessas escamas; e assim fala o mais poderoso de todos os dragões: “Todo o valor das coisas resplende em mim."
Todo o valor já foi criado e todo o valor criado sou eu. Na verdade, não deve mais haver nenhum ‘Eu quero’!” Assim fala o dragão.
Meus irmãos, para que é preciso o leão, no espírito? Do que já não dá conta suficiente o animal de carga, suportador e respeitador?
Criar novos valores – isso também o leão ainda não pode fazer; mas criar para si a liberdade de novas criações – isso a pujança do leão pode fazer.
Conseguir o direito de criar novos valores – essa é a mais terrível conquista para o espírito de suportação e de respeito. Constitui para ele, na verdade, um ato de rapina e tarefa de animal rapinante.
Como o que há de mais sagrado amava ele, outrora, o “Tu deves”; e, agora, é forçado a encontrar quimera e arbítrio até no que tinha de mais sagrado, a fim de arrebatar a sua própria liberdade ao objeto desse amor: para um tal ato de rapina, precisa-se do leão.
Mas dizei, meus irmãos, que poderá ainda fazer uma criança, que nem sequer pôde o leão? Por que o rapace leão precisa ainda tornar-se criança?
Inocência, é a criança, e esquecimento; um novo começo, um jogo, uma roda que gira por si mesma, um movimento inicial, um sagrado dizer “sim”.
Sim, meus irmãos, para o jogo da criança é preciso dizer um sagrado “sim”: o espírito, agora, quer a sua vontade, aquele que está perdido para o mundo conquista o seu mundo.
Nomeei-vos três metamorfoses do espírito: como o espírito tornou-se camelo e o camelo, leão e o leão, por fim, criança.
Assim falou Zaratustra. 
E achava-se nesse tempo, na cidade chamada "A Vaca Pintalgada". 

(NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra: Um livro para todos e para ninguém. 9ª Edição, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p. 43-45).

À Mariana

Quando a vi pela primeira vez
Percebi que havia algo errado
Não era ela, tua voz tão bela
Ou o primeiro abraço apertado

Era essa hesitação apaixonada
Como a volúpia de um sonhador
De demonstrar tudo que sentia
Sem que a vertigem virasse dor

Por certa data esteve ausente
E seu retorno me fez perceber
Por tanto tempo que se passou
Ainda há tempo de me envolver
                                         
Aceite estas simples palavras
Que sinceramente lhe ofereço
E saiba que do fundo do peito
Ainda lhe tenho forte apreço


Setembro, 2010.